domingo, 18 de maio de 2014

A SABEDORIA IMORTAL...



Estudos seletos do Bhagavad Gita.

Parte 1: 
A CORAGEM ESPIRITUAL


A "Sublime Canção", um dos textos mais importantes da literatura mundial, lido e comentado por sábios de todas as eras, é especialmente reconhecido em seu sentido simbólico, onde a luta travada pelos dois clãs representaria uma alegoria dos embates da personalidade humana, representada por Arjuna, para se libertar dos apegos materiais e da escravidão dos prazeres dos sentidos, representados por todos os seus inimigos no campo de batalha.

Desanimado e sem forças para empreender tão magna tarefa, recebe então a ajuda de Krishna que aqui representaria o papel do seu Eu Superior, sua Alma imortal....

Os trechos que seguem são apenas alguns dos muitos que compõe o texto original. Publicaremos algumas partes, mas recomendamos que sejam sempre interpretadas dentro do contexto completo da obra, buscando seu significado Místico e simbólico antes de tudo, sem prender a mente em literalidades impulsivas.

Assim, inicia o texto com o lamento de Arjuna e sua vontade de desistir do combate, quando então recebe os conselhos de Krishna e tem início o Sagrado Diálogo:

Fala Sanjaya (o historiador):

26 – Então viu Arjuna, nos dois exércitos, homens ligados a ele pelos vínculos do sangue: pais, avós, mestres, primos, filhos, netos, sogros, colegas e outros amigos – todos armados em guerra contra ele:

27 – Com o coração dilacerado de dor e profundamente condoído, assim falou ele:

Fala Arjuna:

28 – Ó Krishna! Ao reconhecer como meus parentes todos esses homens, que devo matar, sinto os meus membros paralisados, a língua ressequida no paladar, o coração a tremer e os cabelos eriçados na cabeça... Falha a força do meu braço... Cai-me por terra o arco que tendera...

29 – Mal me tenho em pé... Ardem-me em febre os membros... Confusos estão os meus pensamentos... A própria vida parece fugir de mim...

30 – Nada enxergo diante de mim senão dores e ais... Que bem resultaria daí, se eu trucidasse os meus parentes?

31 – Não, Krishna, não quero vencer. Não quero, deste modo, conquistar soberania e glória, riqueza e prazer.

34 – Não os matarei, ainda que com isso lograsse domínios sobre os três mundos – menos ainda me seduz a posse da terra.

45 – Bem melhor seria se nos rendêssemos aos inimigos armados e nos deixássemos matar na luta, sem armas nem defesa.

46 – Assim dizendo, em pleno campo de batalha, deixou-se Arjuna tombar no assento da quadriga, e das mãos lhe caíram arco e flechas, porque trazia o coração repleto de amargura.

CAP. 2

Fala Sanjaya (o historiador):

1 – A ele, que estava repleto de amargura e com os olhos cheios de lágrimas,

dirigiu-se KRISHNA e o consolou com as seguintes palavras:

Fala Krishna:

2 – Neste momento decisivo, ó Arjuna, por que te entregas a semelhante desânimo, indigno de um Ariano, e que te fecha os céus?

3 – Não cedas à fraqueza, que de nada serve. Enche-te de coragem contra teus inimigos e sê o que realmente és!

Responde Arjuna:

4 – Mas, como posso lutar, ó Madhusudana, e lançar flechas contra Bhishma e Drona (seus parentes), se ambos merecem a minha reverência e simpatia?

5 – Bem melhor seria comer pão mendigado neste mundo do que trucidar esses grandes chefes. E se os matasse, manchado de sangue, que seriam toda minha riqueza e os prazeres da Terra?

Fala Sanjaya:

9 – Assim falava Arjuna ao Senhor dos corações. “Não, não quero lutar!”, suspirou – e calou-se.

10 – Krishna, porém, sorrindo benevolamente, ali mesmo, em face dos dois exércitos, assim falou ao desanimado:

Fala Krishna:

11 – Andas triste por algo que tristeza não merece – e tuas palavras carecem de sabedoria. O sábio, porém, não se entristece com nada, nem por causa dos mortos, nem por causa dos vivos.

12 – Nunca houve tempo em que eu não existisse, nem tu, nem algum desses príncipes – nem jamais haverá tempo em que algum de nós deixe de existir em seu Ser real.

10. Com essas e as seguintes palavras, procura Krishna mostrar a Arjuna que a destruição física do nosso corpo material não equivale à destruição metafísica do corpo imaterial, isto é, da individualidade. E o mal não está no fato objetivo da morte física, mas sim na realidade metafísica da nossa alma.

13 – O verdadeiro Ser vive sempre. Assim como a alma incorporada experimenta infância, maturidade e velhice dentro do mesmo corpo, assim passa também de corpo a corpo – sabem os iluminados e não se entristecem.

14 – Quando os sentidos estão identificados com objetos sensórios,
experimentam sensações de calor e de frio, de prazer e de sofrimento – essas coisas vêm e vão; são temporárias por sua própria natureza. Suporta-as com paciência!

15 – Mas quem permanece sereno e imperturbável no meio de prazer e sofrimento, somente esse é que atinge a imortalidade.

16 – O que é irreal não existe, e o que é real nunca deixa de existir. Os videntes da Verdade compreendem a íntima natureza tanto disto como daquilo, a diferença entre o Ser e o parecer.

17 – Compreende como certo, ó Arjuna, que indestrutível é aquilo que permeia o Universo todo; ninguém pode destruir o que é imperecível, a Realidade.

18 – Perecíveis são os corpos, esses templos do espírito – eterna,
indestrutível, infinita é a alma que neles habita. Por isto, ó Arjuna, luta!

19 – Quem pensa que é a alma, o Eu, que mata, ou o Eu que morre, não conhece a Verdade. O Eu não pode matar nem morrer.

23 – Armas não ferem o Eu, fogo não o queima, águas não o molham, ventos não o ressecam.

24 – O Eu não pode ser ferido nem queimado; não pode ser molhado nem ressecado – ele é imortal; não se move nem é movido, e permeia todas as coisas – o Eu é eterno.

25 – Para além dos sentidos, para além da mente, para além dos efeitos da dualidade habita o Eu. Pelo que, sabendo que tal é o Eu, por que te entregas à tristeza ó Arjuna?

29 – Alguns conhecem o Eu como glorioso; alguns falam dele como glorioso;outros ouvem falar dele como glorioso; e outros, embora ouçam, nada compreendem.

30 – Eterno e indestrutível é o Eu, que está sempre presente em cada ser. Por isso, ó Arjuna, não te entristeças com coisa alguma.

31 – De mais a mais, visando ao teu próprio dever, não vaciles, porquanto para um príncipe da classe dos guerreiros, nada é superior à uma guerra justa.

32 – Felizes deveras são os guerreiros chamados a lutar numa batalha dessa natureza, que lhes vem espontaneamente como uma porta aberta para os céus.

33 – Mas, se não combateres esse bom combate, incorrerás em pecado, pelo fato de abandonares o teu dever e a tua honra.

34 – E os homens falarão de tua indelével desonra – e pior que a morte é, certamente, a desonra.

35 – E os grandes chefes de guerra pensarão que fugiste do campo de batalha por covardia; e os que te dedicavam elevada estima te desprezarão.

36 – E os teus inimigos falarão mal da tua bravura – e que coisa poderia haver pior do que esta?

37 – Se fores morto na batalha, entrarás nos céus; se fores vencedor, gozarás a terra. Pelo que, Arjuna, tem coragem e resolve lutar!

38 – Aceitando prazer e sofrimento, ganho e perda, vitória e derrota com a mesma serenidade de espírito, entra na peleja – e não pecarás!
...

>>>CONTINUA>>>

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